TEATRO DE ANIMAÇÃO
PROCEDIMENTOS E RESULTADOS / LABORATÓRIO DE TEATRO E DE FORMAS ANIMADAS DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS.
THEATRE OF ANIMATION PROCEDURES AND RESULTS / THEATRE LAB AND FORMS OF ANIMATED GOIÁS FEDERAL UNIVERSITY.
AUTORA: RAQUEL PEREIRA ROSA
CONTATO: raquelvarekai@hotmail.com
Resumo
O artigo relata experiências
de construção e manipulação de bonecos dentro do Laboratório de Teatro de
Formas Animadas-LATA tendo como fio condutor a montagem do espetáculo O Grande
Governador da Ilha dos Lagartos, espetáculo de bonecos na qual participei na
construção dos objetos de cena e bonecos, sob orientação do Prof. Ms. Francisco
Guilherme de Oliveira Junior e como atriz-manipuladora sob direção do Prof. Ms.
Kleber Damaso. Dialogando com autores como os Doutores Valmor Beltrame (2013) e
Paulo Balardim (2004).
Palavras-chave: experimentação
– construção – manipulação – teatro de bonecos
Abstract
This
article reports puppet construction and manipulation of experiences within the
Extension Project linked to forms of Theatre Laboratory Animadas - tin having
as a guide the assembly of the show The Great Governor of the Island Lizards,
puppet show in which I participated in the construction of scene dolls and
objects under supervision of Prof. Ms. education Francisco Guilherme de
Oliveira Junior and as an actor / manipulator under the direction of Prof. Ms..
in cultural history KleberDamaso.Dialogue with authors such as Doctors Valmor Beltrame
(2013) and Paul Balardim (2004).
KEYWORDS: experimentation
– construction - manipulation - puppet theater
Este
artigo visa o relato e reflexões sobre os processos de criação de bonecos, manipulação
e interpretação no espetáculo de bonecos O
grande Governador da Ilha dos Lagartos, abordando a relação da materialidade
que constitui os bonecos com a corporeidade e com o trabalho do ator-animador,
como ela pode ser pensada para favorecer a cena, tanto no sentido funcional do
boneco como também na estética final do mesmo.
O presente relato e
reflexões foram constituídos a partir de vivências e anotações pessoais, bem
como por meio de comentários dos atores envolvidos na montagem e diálogo com
professores e literatura sobre o teatro de animação. A montagem teve início em
abril de 2014, com o estudo do texto, análise das cenas, características das
personagens e a construção dos bonecos a partir de desenhos e moldes recortados
em papel pelo Prof. Guilherme.
Para a montagem do
espetáculo tomamos como primeiro passo a leitura do Entremez[1]intitulado
O Grande Governador da Ilha dos Lagartos, obra de Antônio José da Silva (O
Judeu), escrita e encenada no Século XVIII. A partir da leitura do referido
texto, personagens foram distribuídos para os atores e para a equipe
responsável pela construção dos bonecos, distribuição esta que nos possibilitou
e nos impulsionou a pensarmos em como seriam as imagens corporais dos mesmos.
Paralelamente a esse
processo de leitura e adaptação do texto dramático, uma equipe de estudantes
dos cursos de Direção de Arte e de Artes Cênicas sob orientação do Prof.
Guilherme participou da criação dos bonecos, confeccionando suas estruturas
físicas, incluindo elementos de caracterização como figurinos, adereços,
maquiagens e penteados. Alguns dos membros desta equipe de construção, também
participaram da montagem como atores.
Todos os bonecos foram
animados por meio da técnica de manipulação direta. De acordo com Balardim
(2004, p.72), “Essa expressão, de uso comum no sul do Brasil, designa a técnica
de operação em que o contato do manipulador com o boneco é “direto” através do
seu toque, sem intervenção de fios ou varas”.
Os bonecos de manipulação
direta foram criados com uma estatura entre 60 cm e 80 cm, feitos de isopor,
seus membros articulados por fitas de materiais têxteis e de outras naturezas. A
escolha dos materiais utilizados foi fundamental para que os bonecos fossem
melhores manipulados, considerando seus tamanhos e leveza. É importante
ressaltar que quando falamos de teatro de bonecos estamos inevitavelmente
falando de materialidades, para Oliveira Junior (2009), a materialidade é responsável tanto pela
qualidade expressiva do boneco como pelas interações entre ator, boneco e espectadores.
A Materialidade se refere, primeiramente, às qualidades
expressivas dos materiais que compõem o boneco ou as silhuetas, como um objeto
concreto. O que distingue este objeto no Teatro de Animação é a sua
intermediação no processo de comunicação entre o ator e o espectador e o fato
de que, para isto, é necessário que o objeto seja imbuído do valor ânima, a partir de sua manipulação e das
convenções que se estabelecem durante o jogo cênico, conferindo-lhe o status de
personagem. O Status de personagem insere a Materialidade em outro patamar,
posto que já não se trate apenas de uma qualidade referente ao material
utilizado no objeto animado e sim a um conjunto de ações, que têm início com o
bonequeiro no ato da construção deste objeto, ao eleger técnicas e materiais de
confecção, perpassa pelo diálogo entre o objeto construído e o seu manipulador,
a partir da escuta sensível e do princípio da reciprocidade, onde um corpo
interage com o outro (OLIVEIRA JUNIOR, p. 1, 2009).
Pensar,
analisar e escolher os materiais adequados para comporem os bonecos faz toda a
diferença em se tratando de possibilidades como, maior ou menor grau de
dificuldade na manipulação, efeitos na cena, durabilidades dos bonecos, entre
outros aspectos.
Após esculpirmos
os membros dos bonecos em isopor, fizemos a papietagem[2],
processo fundamental para garantir maior resistência e durabilidade aos
bonecos. Uma vez seca a camada de papel, pintamos os bonecos, realçando os
volumes criados pela escultura e sugerindo outros por meio de um jogo de formas
e cores, iluminando e sombreando a superfície dos bonecos, como se estivéssemos
realizando uma maquiagem teatral. Para complementar esta caracterização visual,
aplicamos olhos, cabelos, pelos e finalizamos sua imagem com figurinos que, em
alguns casos, além de vestirem os bonecos, também participavam como estrutura
corporal destes, servindo como elemento de articulação entre os membros dos
objetos esculpidos.
Para o espetáculo foram
construídos cinco bonecos, quatro para personagens fixas e um para representar
três personagens. Sobre a face do boneco coringa foram sobrepostas duas
máscaras, que conforme a troca de personagem, eram subtraídas junto com as
camadas de figurinos, revelando ou compondo novas personas, à vista do público.
Neste caso, a transformação visual de uma personagem em outra era complementada
pela configuração obtida com a presença de um novo ator que assumia a
manipulação do boneco.
Outro boneco, tinha como
particularidade, duas cabeças presas ao mesmo corpo, para duas personagens que
possuíam discursos antagônicos e complementares ao mesmo tempo, o Médico e o
Cirurgião, criando assim um jogo cômico que enalteceu a característica do texto.
Este boneco foi manipulado por dois atores.
Segundo Balardim (2004),
o boneco só adquiri o status de objeto personagem ou objeto animado, quando
imbuído do valor de vida, por meio de procedimentos e convenções teatrais
realizados pelo ator diante de uma audiência (público). Ao mesmo tempo, é interessante
observar que a escolha do material e as técnicas/procedimentos de construção
dos bonecos do entremez, tiveram uma parcela de contribuição na definição destes
objetos como personagens, seja pela aparência constituída ou pelas
possibilidades que estes materiais ofereceram em cena, possibilitando ao boneco
amplitude de movimento, peso, resistência, rigidez, enfim, uma série de
elementos que interagiram com o ator- manipulador, durante o ato de animação.
É importante ressaltar
que o cuidado especial com a materialidade dos bonecos se deu pelo fato de
estarmos cientes de que a animação é o objetivo primeiro e final do boneco, ele
é pensado inicialmente para ser animado e alcança esse objetivo quando está em
cena, sendo manipulados. Desde sua fabricação, ou sua escolha, subsiste no
boneco a predisposição ao jogo cênico com o ator, seja através dos mecanismos
que serão utilizados em sua manipulação, seja pela expressão de sua matéria,
seja pelo conflito que propõe, seja pelas suas possibilidades de deslocamento
espacial ou pelo poder simbólico que possui. A escolha da utilização dos
recursos do teatro de animação é a escolha por um modo dinâmico de expressão
artística associada à valores plásticos-pictóricos, pois é no modo como a forma
se comporta que percebemos o conteúdo (BORGES, 2013 ,p. 225).[LL1]
Neste sentido a
materialidade contribui tanto no que diz respeito à construção plástica do
boneco quanto à interação entre ator e objeto manipulado e, por conseguinte,
entre estes e o público, que é aquele que vai absorver e apreciar a interação
que ocorre em cena. Deste modo a matéria que constitui o boneco, sua qualidade
expressiva material e visual a qual o ator-manipulador deve estar sensível, ao
ponto de integrar as possibilidades de voz, riso, trejeitos e modo de caminhar
que correspondam ao potencial instalado no boneco, impregnando-o, por sua vez,
de vida, enriquecem a interação entre o boneco e o ator-manipulador. Ou seja, a partir do que oferece o boneco, e
do texto da personagem, chegamos a um repertório gestual, vocal e às ações
cênicas.
No meu caso, pude
participar tanto do processo de construção do boneco/personagem Aurora, como da
manipulação, procedimento pelo qual o boneco é animado, e creio que este
envolvimento na construção me ajudou de algum modo a perceber mais facilmente
as fragilidades e possibilidades que este boneco poderia me oferecer na cena,
subsidiando assim meu jogo cênico com a personagem, bem como me aproximou
afetivamente daquela figura, que foi sendo construída aos poucos, sendo
adaptada e nos cobrando uma adequação ao que ela oferecia.
Posterior ao processo de
construção fui aos poucos me aproximando do boneco, da personagem que nomeamos
como Aurora, buscando compreender como seria dada nossa relação, pois neste
trabalho em específico minha atuação esteve voltada para um personagem já
construído, diferente do teatro realizado somente com atores, onde entramos num
processo de criar o personagem em nosso próprio corpo, então considerei
importante observar Aurora, mantê-la comigo mesmo fora da cena, percebendo com
cuidado a configuração de seu corpo e o que ele me sugeria, e o próprio fato de
poder construí-la e eventualmente ajustar alguns detalhes nela foi me trazendo
afeição por ela, já não era possível ver somente como um material confeccionada
para a cena, mas fui felizmente estabelecendo estima por Aurora.
Inicialmente, confesso, me aproximei com um
pouco de receio, ter um objeto [3]como
personagem e ter que por meio dele desenvolver uma cena é um ato desafiador,
ter de olhar para o boneco e pensar, sentir como ele, no caso ela, dar-lhe vida
por meio da minha manipulação foi desafiador e exigiu delicadeza. Sobre a
animação Amaral (2004, p. 80), afirma que “Para animar um boneco o ator deve
observá-lo bem antes, captar sua essência e procurar transmiti-la. Para dar
vida ao inanimado é preciso ressaltar a matéria, ressaltar essas peculiaridades
intrínsecas da materialidade com que todo boneco é feito”.
Nos primeiros momentos
olhava para seu rosto, olho, cintura e pensava em como poderia falar. Que voz
ela tem? Como caminha? Como reage? Essas foram perguntas que passaram por minha
mente para chegar a composição final da personagem. Além do boneco considerei a
informação do texto em que Aurora aparece procurando alguém para se casar e
chega a se oferecer para o governador, por isso sua risada foi executada de
modo mais escandaloso, distante de um rebuscamento, e por ter uma cintura fina,
como que apertada por um espartilho, fui procurando aos poucos uma voz que
pudesse se encaixar naquele corpo, acabei usando uma voz mais alta. Suas pernas
não oferecem articulações então o caminho foi fazer com que ela andasse com
pequenos "cliques" (quero dizer, uma espécie de pulinhos). Foi um
processo de perceber o que o texto e o boneco ofereciam, junto a isso eu e o
grupo cada qual com seu boneco exploramos as articulações, eixo, olhar e fomos
aos poucos conhecendo e nos familiarizando com a linguagem do teatro de
bonecos.
Nesse período nos
dedicamos a explorar as articulações dos bonecos, verificando possibilidades de
movimento, como amplitude, direção, rotações, mapeando gestos potenciais para
cada personagem. Também exploramos posturas e posições nas quais os bonecos
permanecessem sem o auxílio do ator, verificando como os diferentes ângulos ou
pontos de vista de uma mesma pose repercutiam em suas imagens e potencializavam
leituras sobre as personagens. Só depois de mais íntimos com os bonecos é que
começamos a ensaiar cenas. Como atriz com experiência em teatro
"convencional", uso convencional apenas como referência ao teatro
onde o jogo de cena se dá entre os atores que representam determinadas
personagens, tive como uma das principais dificuldades conseguir, ou ao menos
buscar, minha neutralidade corporal, a fim de conseguir deixar o boneco em
primeiro plano, como foco de atenção para o público. Procurando não carregar
minhas expressões, exceder os movimentos, e ocupar demasiadamente o espaço da
cena.
Conseguir dissociar os
movimentos dos nossos corpos em relação aos corpos dos bonecos foi outra
dificuldade encontrada pelo elenco. Por várias vezes, aos fazermos um movimento
com os bonecos tendíamos a também realizar o movimento, no meu caso, por
exemplo, em determinado momento devia baixar um pouco Aurora para fazer a
intenção de pulo para que este fosse realizado, ao fazer isso eu também
flexionava meus joelhos e fazia intenção de pulo.
Como pôde ser observado
na figura 1 os atores estavam visíveis ao público, então foi fundamental para o
processo compreendermos o espaço do boneco na cena, buscando nos neutralizar,
embora estivéssemos perceptíveis ao público o boneco deveria estar em primeiro
plano. Bom, a ideia não era fazer de nós atores algo inexistente, mas existiu sim uma
tentativa de fazer com que mesmo nos vendo o público direcionasse sua atenção
ao boneco, para isso nos foi exigido uma auto-organização referente a nós mesmo
e ao boneco manipulado, para que de forma mais verossímil possível o boneco
simulasse vida por si só.
O ator animador visível, quando neutro,
esforça-se em dissimular sua presença. Nessa condição, todo o corpo do manipulador
tenta “endereçar” a atenção do público para o objeto manipulado. O foco
principal da atenção converge para o objeto. O controle corporal exigido do
manipulador é alto nessa situação, pois geralmente ele objetiva ocultar seus
movimentos de operação, a fim de provocar maior impressão sobre o objeto, o que
enfatiza a percepção de que é o objeto que se movimenta por si. Numa
perspectiva de neutralidade, percebemos aspectos relacionados à uma
dissimulação do ator enquanto manifestação de sua presença, pois o que ele
intenta, nessa situação, é conferir maior valor expressivo para o objeto. No
entanto, não pode ser ignorado que sua presença, por mais discreta que seja, é
percebida pelo público, e, em conjunto com o objeto manipulado, compõe outro
signo, carregando a imagem percebida pelo espectador com outro significado (BALARDIM,
Ano, p.79).
Mesmo que nós do elenco tenhamos tomado ciência da
importância da neutralização dos nossos corpos consideramos essa uma tarefa
difícil, essa dificuldade pode ter se dado sobre tudo pela nossa falta de
experiência com a manipulação de bonecos, pois anterior ao Entremez não
tínhamos de modo geral tido estudos voltados para os bonecos, tanto referentes
á confecção quanto também a manipulação, então de certo modo nossos corpos vieram
de experiências que não estavam relacionadas à manipulação, ou mesmo tendo o
corpo voltado para ela. Então percorremos um caminho onde buscamos conseguir a
organização estrutural do nosso corpo na manipulação, alcançando a dissociação
dos movimentos e consciência corporal na cena, essa organização estrutural do
corpo do ator da qual falo é pensar em como terei que posicionar meu corpo para
conseguir fazer determinado movimento com o boneco, se não flexiono o joelho
não conseguirei levar o boneco no alto por falta de equilíbrio, ou se chego na
marca com a perna direita não conseguirei fazer a rotação do boneco, por
exemplo.
A manipulação exige essa
organização, primeiro um arranjo corporal de quem manipula para depois haver a
organização referente á movimentação do boneco. O que permite a construção de
partituras de movimentos, sequências de ações que o boneco deve realizar em
cena. Afinal é por meio do corpo do ator que o boneco ocupa a cena, então
pensar nessa organização é importante, para que aja fluência nos movimentos e
conexão destes com a fala.
“Constatamos, em nossas observações, que,
contrariamente à acepção de que no teatro de animação a interpretação do ator é
mediada pelo objeto, o ator, através de sua ação, é quem media a percepção
dessas presenças como sujeitos. Identificamos que ator e encenador, nesse
contexto, precisam fazer uso especial dos corpos em cena, principalmente se o
ator está visível e opera, de alguma forma, dispositivos cênicos ou objetos
animados. Esse uso especial dos corpos, entre outras qualidades do ator, requer
dissociação de movimentos, economia de meios e condução do foco de atenção do
espectador através de técnicas corporais.” (Borges, 2003, p. 220-221)
E claro, tudo isso é
direcionado para que o boneco possa ser em cena o foco principal, sem que o
ator tome a atenção para si. “Um dos principais desafios do ator é justamente
criar, junto ao público, a impressão de vida no boneco ou no objeto. O boneco é
prioritariamente, o foco das atenções.” Beltrame (2013, p.27). [A2] Por
isso para nós buscar a neutralidade referente à figura do ator-manipulador se fez
indispensável para que o boneco se apresentasse quase como uma figura autônoma.
Lidamos no nosso trabalho com a dualidade de presenças, buscando explorar cada
presença da melhor maneira possível dentro da cena, tendo momentos em que
tivemos que trabalhar até mais que a dualidade onde estão inseridos
ator-manipulador e boneco, pois no Entremez houve a situação em que mais de um
manipulador manipulou o mesmo boneco concomitantemente, no meu caso, manipulei
Aurora junto à outra atriz-manipuladora, o que exigiu maior atenção, porque
existe a relação com o outro, e nesta relação à sintonia é importante, pois se
eu tenho num determinado momento que passar a mão do boneco para a outra
manipuladora isso exige precisão e atenção, afim de que a cena não fosse
executada no tempo certo. O modo como o ator-manipulador faz o estudo do gesto
e dessa organização estrutural sua e do boneco, é capaz de potencializar a ideia
de vida do personagem.
Enquanto atores-manipuladores
nós participamos da ideia de vida que cerca o teatro de bonecos. Participamos
manipulando o boneco, compartilhando energia e de algum modo a recebendo
também, buscando imprimir na manipulação maior organicidade, o que pode
cooperar para que aja a sensação de que o objeto age por si mesmo, independente
da nossa interferência,
angariando determinado grau de autonomia ao boneco. Paiva (2015) reforça
essa ideia de autonomia do boneco quando diz que o boneco tem tanta autonomia
que o ator-manipulador vai observando o que ele faz. Entrando quase num transe.
Essa sensação advinda da organicidade criada
em alguns momentos, reforça a ideia de que a organicidade no ato da manipulação
é ferramenta fundamental para transpor a técnica, capaz de fazer com que o
espectador se deslumbre com bonecos vivos em cena. E possa assistir a atuação
não daquele que anima, mas daquele que é animado, neste sentido o teatro de
bonecos leva o ator a se desvencilhar do seu ego, abrindo espaço para que o
boneco seja o foco da cena.
“Uma diferença importante entre o trabalho do
bonequeiro e o do ator é que enquanto a personagem se apresenta no corpo do
ator, no teatro de bonecos ela se apresenta fora do corpo do bonequeiro. Na
representação, a relação com o público se estabelece mediada pelo boneco. O
público não estabelece relação de empatia com o ator-animador, mas com a
personagem-boneco. O desafio do ator-bonequeiro consiste em fazer a
personagem-boneco atuar, em dar organicidade a essa relação. Quanto maior for
sua capacidade de fazer o boneco atuar, mais estará sintonizado com a linguagem
do teatro de animação.” (BELTRAME, 2003, P.6)
Considerações Finais
Participar do espetáculo
O Grande Governador da Ilha dos lagartos me levou a compreender que existem no
teatro de bonecos inúmeras especificidades, tanto relacionadas à composição dos
personagens, que são compostos por meio de materiais potencialmente
expressivos, quanto á relação do ator no e com o mesmo. No teatro de bonecos os
personagens estão desvencilhados do ator, quando manipulados pela manipulação
direta. Ainda que o ator seja o responsável por conferir ânima ao boneco ele é
o meio pelo qual o personagem ocupa a cena. Assim nos foi exigido uma
organização tanto espacial quanto corporal, para que pudéssemos realizar da
melhor maneira possível à manipulação, que aconteceu por vias técnicas, nos
colocando frente a princípios como triangulação, e dissociação dos movimentos
realizados pelos atores e bonecos.
A técnica é necessária,
mas tem de ser entendida como um meio pelo qual se realizar o teatro de
bonecos, e não o fim, pois se estamos diante de bonecos a brincadeira faz
convite, e é importante aceitar. Aceito o convite tomei ciência dos aspectos
necessários para realizar a complexa e ao mesmo tempo simples, arte de animar.
É preciso dar vida.
AMARAL, Ana Maria. O ator
e seus duplos: Máscaras, bonecos e objetos/Ana Maria Amaral.- 2 ed..- São Paulo
: Editora Senac São Paulo, 2004.
BELTRAME, Valmor.
Princípios técnicos do trabalho do ator- animador. Em Pauta: Revista Sesc .São
Paulo p.27, 2013.
BELTRAME, Valmor Nini. REVELAR E ESCONDER: O TRABALHO DO ATOR-ANIMADO. Revista FENATIB, referente ao 7º
Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau (2003)
BORGES, Paulo César Balardim.
Desdobramentos do ator, do objeto e do
espaço. 2013. 393 f. Tese (Doutorado em Artes Cênicas - Área: Linguagens
cênicas, corpo e subjetividade) - Universidade Estadual de Santa Catarina /
UDESC. Programa de Pós-graduação em Teatro. Florianópolis, 2013.
PAVIS; Patrice. Dicionário de teatro/ tradução para a
língua portuguesa sob direção de J. Guinsburg e Maria Lúcia Pereira. 3. Ed –
São Paulo: Perspectiva, 2007.
PAIVA, Duda. Discurso
oral realizado no evento organizado pela Casa Corpo denominado Encontro con(versado). Goiânia 22 de
Abril, 2015.
JUNIOR, de Oliveira
JUNIOR, de Oliveira Guilherme Francisco. A
Materialidade no Teatro de Formas Animadas. 7º Seminário De Estudos De
Teatro De Formas Animadas. Jaraguá do Sul, 2009.
GUINSBURG, José. FARIA,
João Roberto. LIMA, Mariangela Alves de. Dicionário
do Teatro brasileiro: temas, formas e conceitos. São Paulo: Perspectiva,
2006
[1] Peça cômica de curta duração,
apresentada entre os atos de uma peça mais longa. De acordo com o Dicionário de
Teatro Brasileiro (p.131, 2006), teve origem nos banquetes da Idade Média, quando
entre um prato e outro, eram apresentados alguns números cômicos, que
posteriormente deram origem a uma pequena comédia em tom burlesco, de caráter e
procedimentos popularescos (pancadarias, esconderijos, disfarces), visando
aproveitar os dotes cômicos e a capacidade de improvisação dos atores.
[3]
Aplicamos neste artigo o termo objeto como sinônimo para boneco, dada sua configuração
material
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