ENTREVISTA 01 JANEIRO 2017


Entrevista com o ator/ bailarino e bonequeiro Duda Paiva.

Entrevista concedida pelo bonequeiro e bailarino Duda Paiva, em 17 de Abril de 2015, Goiânia-GO.  Á Raquel Rosa, atriz/ manipuladora e arte-educadora. 
Entrevista realizada na Oficina Cultural Geppetto.

Raquel Rosa: Boa noite Duda, como já dito, sou estudante de Artes Cênicas na Universidade Federal de Goiás, e estou escrevendo meu trabalho de Conclusão de Curso sobre os bonecos germinados e suas implicações corporais. Usarei esta entrevista para compor o trabalho...

Duda Paiva: Porque você tem o interesse nesse assunto?

Raquel Rosa: Bom, porque estou trabalhando com bonecos germinados no espetáculo que estou construindo com o Marrom, e percebi a partir desta experiência tive que desenvolver outras qualidades corporais que até então como atriz não me tinham sido exigidas. Por isso gostaria de saber de você que trabalhou muito tempo com a dança, se em contato com os bonecos germinados você adquiriu ou percebe uma nova consciência corporal ou se você encontrou dificuldades nesse trabalho corporalmente.
foto Layza Vasconcelos/Raquel Rosa espetáculo Aurora. 

Duda Paiva: Como bailarino a gente tem a possibilidade de ter um caminho um tanto quanto encurtado para chegar aos princípios de manipulação de boneco, que tudo tem uma coisa muito haver, ritmo, foco, precisão tudo isso a gente aprende em dança. No boneco também, a gente usa isso, só que, no outro lado da moeda como bailarino nós passamos várias horas do dia olhando no espelho, olhando o corpo, observan..., porque a gente tem que observar se o corpo tá fazendo o que é... Tá com as linhas apropriadas. Com o boneco não é, principalmente nessa técnica né ?

Raquel Rosa: Sim.

Duda Paiva: Da manipulação germinada. Existe essa brincadeira essa possibilidade da gente se desvincular do nosso próprio corpo e dar vida pra esse outro corpo. Pra mim, ao meu entender essa brincadeira gostosa de troca de foco, que quando a gente que trabalha com esse tipo de disciplina o resultado é o resultado de ilusão é quase como que um mágico, um mágico que a gente não esconde nenhum truque debaixo da cartola, e tudo é exposto. Só que é um mágico contemporâneo, mesmo com tudo exposto as pessoas ainda não acreditam que tem dois corpos. Então a mágica está é na cabeça das pessoas porque elas optam por acreditar naquilo. Então isso é muito bonito, isso é teatral, isso é teatro puro, isso é teatro vivo a meu ver. E como pessoa e como artista eu tenho a oportunidade de observar esse corpo que está na minha frente, né que é o corpo do boneco, é, e eu tenho a oportunidade de dialogar com esse corpo, mas o mais importante é quase como um processo de meditação que você se distancia.

Raquel Rosa: Para poder observar.

Duda Paiva: Para poder observar. E isso é muito precioso.

R.R: E quando você está criando, tem um diretor que fica... Bem, porque na lida com o boneco a gente não tem a clareza do que o público está vendo, pelo menos eu percebo isso, e me questiono_ Será o que público vê o que eu quero mostrar? Você entende quando eu falo isso?

D.P: Geralmente tenho diretores que trabalham comigo, mas é para dirigir o arco maior do espetáculo, mas não para dirigir a atuação minha com o boneco, isso quem faz sou eu mesmo.

R.R: Entendi. Tem uma boneca maravilhosa, que eu acho que o nome dela é Clementine.
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D.P: Exato.


R.R: Que você trabalha no espetáculo BASTARD. Eu queria que você falasse um pouco sobre a sua relação corporal naquele trabalho especificamente. Porque você tem vídeos em que os atores ficam escondidos, e ali você fica completamente visível.

D.P: Todos os meus trabalhos é... O manipulador ele é um personagem.

R.R: Entendi.

D.P: Tanto o personagem que eu represento como o personagem que o boneco representa tem um processo. Eles passam por uma metalinguística, porque todos eles, tanto eu quanto o boneco nós observamos o personagem transitando no espetáculo, quer dizer, se tiver algum momento do show em lugares estranhos assim que eu quiser sentir necessidade de parar ou de fazer um comentário eu paro e faço. Ou com o público ou uma coisa que está acontecendo, então existe uma flexibilidade muito grande...

R.R: Uma dissociação né, você se desassocia daquele boneco. Interagindo mesmo.

D.P: E que é possível quando você está muito concentrado num, nesse formato de uma performance, a gente é ao meu ver, é saudável a gente poder se observar, se criticar em cena, por que não?

R.R: Ótimo. Na palestra que você realizou na UFG (Universidade Federal de Goiás) você falou muito rapidamente sobre a técnica que você começou a  desenvolver, uma técnica de pontuação  onde você  usava, como se fosse quase uma partitura, você pode falar sobre isso?

D.P: Falo. É uma que eu chamo de dividing the beat or building the partiture or in score (dividindo a batida, ou construindo a partitura, ou a pontuação). É que cada movimento do boneco não é um movimento de improvisação, é coreografado só que ele vem de um formato diferente do da coreografia, mas ele passa pelo mesmo processo coreográfico que o bailarino, de fazer uma coreografia em cima de uma música, por exemplo.

R.R: Então é tudo muito detalhado.

D.P: É mais ás vezes as pessoas observam e falam_ “Há, que coisa mais fluida, mais... Parece que improvisou agora”. Mas não, é extremamente coreografado.

R.R: Entendi é como se fosse uma partitura de alguém que toca vilão.

D.P: É, mas é uma forma muito informal de lhe dar com a partitura. Existe uma informalidade, enquanto que na dança é muito formal. Ela ainda é uma... Então isso valoriza a anarquia do boneco. Tanto na dança quanto no boneco também. Na forma de se expressar o boneco ele é anárquico.

R.R: É verdade.

D.P: E basicamente o que eu faço é, crio padrões coreográficos pra dois corpos sendo regidos por uma mente só a mente do manipulador.

R.R: Eu gostaria de saber de você por que você usou esses bonecos germinados na visualidade, para compor seus espetáculos?

D.P: Eu não uso só os bonecos germinados, eu uso eu uso vários tipos de bonecos, bonecos inteiriços também, bonecos pequenos, bonecos grandes. A única coisa que eu sou completamente fiel é á espuma, o material, existe uma fidelidade ali. Por quê? Porque a espuma ela me dá, é um material muito generoso, porque é um material leve, é um material que passa por metamorfoses né, as máscaras feitas de espuma elas passam por grandes metamorfoses por causa da delicadeza do material, ele se transforma. E isso, ele pode ficar pequeno, pode ficar grande, em contato com água com ar, tudo muda na espuma.

R.R: Minha próxima pergunta vai justamente nesse sentido. Quanto às materialidades que constituem os bonecos porque você optou pela espuma, você acha que ela facilita também nessa relação com o seu corpo?

D.P: A espuma também ela é elástica, e ela estende a expressão do corpo do bailarino, ela extrapola as possibilidades que um bailarino faz. O boneco por ser um... (Pausa). Ás vezes eu perco as coisas, eu penso em inglês.

R.R: Fica á vontade. Mas é isso, você falou que a espuma compõe junto com o seu corpo porque ela é muito maleável.

D.P: Ela pode compor. Eu fiz um trabalho em São Paulo com o Maurício de Oliveira em siameses, Maurício de Oliveira o bailarino fenomenal que trabalhou com coreógrafos da atualidade no mundo como o William forsythe. E nós temos três colaborações já, uma delas é o Objeto gritante em que eu compus vinte e quatro faces, máscaras que representam as vinte e quatro horas do dia, essas máscaras elas vão se alimentando do corpo do manipulador de uma forma simbiótica, de uma forma quase canibalística. Então nós saímos dessa fase linear de mostrar o boneco, o boneco ele vira uma estrutura, ele vira uma obra de arte viva. Então existem várias formas de trabalhar com a espuma, de trabalhar com bonecos.

R.R: Trabalhar com várias visualidades, o boneco ele é muito potente quanto visualidade né? Isso eu acho impressionante, e você tem muito isso no seu trabalho. Seja germinado ou não, o Objeto gritante, por exemplo, eu vi na internet. E embora as coisas da internet sejam muito fragmentadas.


D.P: É.

R.R: Mais é tão forte é tão potente.

D.P: Aquilo podia ser apresentado numa galeria de arte, não é necessariamente, não precisa ser no teatro mais.

R.R: Ok acho que é isso. Eu consegui sanar minhas dúvidas, muito obrigada.

D.P: Obrigada você, eu adorei suas perguntas.


R.R: Muitíssimo obrigada. 


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